E agora para algo completamente diferente, pelos menos tendo em conta o que se conhecia por estes lados. No que se refere a versões de Metallica (mais do que comuns), não tinha uma surpresa destas desde o longínquo primeiro álbum dos Apocalyptica. Mas aqui, em vez de violoncelos temos um vozeirão. Dá vontade de conhecer mais desta vocalista de jazz sul-coreana e vale a pena fazê-lo!
Sou um enorme fã de Nick Cave já há muitos, muitos anos. Sou fã de todas as suas fases, embora com maior tendência para álbuns mais negros e sorumbáticos. Por mais caótica ou delicada que seja a música, por mais causticas ou comoventes que sejam as letras, sempre houve uma beleza latente na sua obra. E de repente há esta música que, em mim, gera um pensamento paradoxal: não entendo como uma música tão fascinante não foi editada em álbum, mas entendo que uma música tão profunda e genuinamente positiva não encaixa propriamente em nenhum álbum do seu fundo de catálogo!
Numa obra já tão extensa, o que não faltam são músicas que ressoam no mais intimo do meu ser e que dificilmete deixarei de regressar a elas com o passar dos anos. Músicas intemporais! Mas esta é provavelmente a única música que conheço de Nick Cave que transborda alegria e quase me obriga a ver o dia de forma mais positiva e de sorriso nos lábios. Uplifting, é a palavra. Não é portuguesa, mas provavelmente a palavra é mesmo essa: uplifting!
No espectro da música extrema, o Trash Metal sempre me deu bandas que adoro (Slayer à cabeça) mas nunca foi o meu sub-género de eleição. No entanto, recentemente, houve duas propostas que me deixaram entusiasmado e agarrado como há muito não acontecia por estas paragens. São dois verdadeiros festins de headbanging!
VHOL - Deeper Than Sky (2015)
Um super-projecto (uma moda que está para durar, embora nem sempre com resultados muito animadores), com membros bastante conhecidos dos YOB, Agalloch e Hammers of Misfortune, que ao segundo álbum lançam uma verdadeira bomba incendiária, um poço de diversão sem ser música divertida. Really, really addictive and entertaining!!
Trash com raízes no passado do género (há aqui riffs que tresandam a Slayer), olhos bem fixos no futuro e algumas influências de black e heavy metal. Guitarras sempre a abrir e uma secção rítmica portentosa, num álbum altamente viciante e carregado de adrenalina. E tem uma coisa que nunca tinha ouvido, pelo menos neste género: um intenso duelo entre baixo e piano, sempre em velocidade acelerada, num instrumental curiosamente intitulado "Paino".
Recomendo vivamente!! No fillers, all killers!
Lineup:
Mike Scheidt - voz
Sigrid Sheie - baixo
John Cobbett - guitarra Aesop Dekker - bateria
Vektor - Terminal Redux (2016)
Outra bomba com uma velocidade média considerável, mas aqui o Trash Metal veste uma roupagem um pouco mais progressiva, no bom sentido. Nos tempos que correm, de consumismo rápido e descartável, aparecer um álbum conceptual deste calibre é uma bem vinda anormalidade. Uma história futurista com alguns aspectos inspirados no icónico filme "2001: Odisseia no Espaço", uma personagem principal com intenções bastante negativas e um enredo coerente e desafiador, que não ficará claro ao fim de um par de audições
A produção é bombástica. Permite ouvir claramente todos os instrumentos e perceber a imensa criatividade aqui patente e a enorme proficiência técnica da banda. São nove malhões e uma espécie de interlúdio ("Mountains Above The Sun"), em que apenas duas músicas estão abaixo dos 6 minutos. Sim, são musicas grandes, o que não é muito comum neste género! Mas os riffs são tantos e tão bons, os solos são enormes, o baixo e a bateria têm uma dinâmica impressionante... Não é difícil manter a atenção.
A voz, rasgada, encaixa como uma luva e consigo entender algumas comparações com a fase 'Sound of Perseverance' do malogrado Chuck Schuldiner. No entanto, e felizmente apenas um punhado de vezes, também surgem uns guinchos estilo Tom Araya, mas bastante irritantes. Como são poucas vezes e surgem no meio de tanta coisa boa a acontecer ao mesmo tempo, acabam por ser ignorados...
Apesar de todas as músicas terem vários e elevados pontos de interesse, sinto mesmo que tenho de destacar uma música em particular: "Collapse", a penúltima faixa do disco. Dentro do andamento geral do álbum, surge neste e na história quase como uma pseudo-balada que vai crescendo em pormenores, peso e agressividade. Volto recorrentemente a esta música e, pessoalmente, penso que os Metallica gostariam de ainda conseguir sacar uma malha destas...
Extremamente bom e garanto que, lá para o final do ano, vai surgir em muitas listas dos melhores álbuns de metal de 2016. Clássico daqui a uns anos?